Microeconomia I (23MIC1)
Restrição orçamentária
A restrição orçamentária de um consumidor pode, então, ser escrita como:
\[p_1 x_1 + p_2 x_2 + \dots + p_n x_n \leq I.\]
Ou seja, o consumidor não pode gastar mais do que sua renda.
A reta orçamentária é o conjunto de cestas de bens que custa exatamente \(I\): \[p_1 x_1 + p_2 x_2 + \dots + p_n x_n = I. \qquad(1)\]
Vamos ilustrar a restrição e a reta orçamentárias para o caso de 2 bens em um gráfico onde os eixos representam a quantidade dos bens consumidos.
Assuma que o consumidor disponha de uma renda \(I\) para alocar entre os bens \(x\) e \(y\).
Se \(p_x\) é o preço do bem \(x\), e \(p_y\) é o preço do bem \(y\), a restrição orçamentária deste indivíduo será dada por: \[p_x x + p_y y \leq I.\]
Portanto, se o consumidor gastar toda sua renda no bem \(x\), ele pode comprar, no máximo, \(I/p_x\) unidades deste bem.
De maneira similar, se toda a renda for alocada na aquisição do bem \(y\), ele poderá comprar, no máximo, \(I/p_y\) unidades deste bem.
Como evidenciado pelo gráfico, os pontos \(I/p_x\) e \(I/p_y\) são os interceptos da reta orçamentária.
A inclinação da reta orçamentária é igual à \(-p_x/p_y\) e informa o valor de troca de mercado entre os dois bens: para se obter uma unidade adicional do bem \(x\), temos que abrir mão de \(-p_x/p_y\) unidades do bem \(y\).
A inclinação da reta orçamentária é, portanto, o custo de oportunidade do bem \(y\), em termos do bem \(x\).
Suponha que o consumidor esteja consumindo \(x\) unidades do primeiro bem, e \(y\) unidades do segundo bem.
Caso ele decida aumentar o consumo do bem \(x\) em \(\Delta x\), deverá abrir mão de uma quantidade do bem \(y\), representada por \(\Delta y\), de modo que a reta orçamentária continue válida, ou seja: \[p_x (x + \Delta x) + p_y (y + \Delta y) = I.\]
Subtraindo a expressão anterior da reta orçamentária original, dada por \(p_x x + p_y y = I\), obtemos: \[p_x \Delta x + p_y \Delta y = 0 \implies \frac{\Delta y}{\Delta x} = -\frac{p_x}{p_y}.\]
O sinal negativo indica que para consumir um pouco mais do bem \(x\), o consumidor deve abrir mão de uma certa quantidade de bem \(y\).
Um aumento ⏫ da renda desloca a reta orçamentária para fora, aumentando o conjunto de cestas de bens que o consumidor pode adquirir.
Uma diminuição da renda ⏬ desloca a reta orçamentária para dentro, diminuindo o conjunto de cestas de bens que o consumidor pode adquirir.
No caso de aumento no preço de um dos bens, a inclinação da reta orçamentária se modifica.
Por exemplo, se o preço do bem \(x\) aumentar, a quantidade comprada deste bem com toda a renda disponível será menor.
Considere a seguinte restrição orçamentária: \(p_1 x_1 + p_2 x_2 + \dots + p_n x_n \leq I.\)
O que ocorre se todos os preços, incluindo a renda, aumentam?
Por exemplo, suponha que todos os preços dobrem de um período para o outros. Portanto: \[(2p_1) x_1 + (2p_2) x_2 + \dots + (2p_n) x_n \leq (2I).\]
Dividindo os dois lados da inequação por 2, temos que a nova restrição orçamentária é idêntica à original: \[p_1 x_1 + p_2 x_2 + \dots + p_n x_n \leq I.\]
Intuitivamente, se todos os preços da economia aumentam (ou diminuem) na mesma proporção, incluindo salários, então, nada muda.
A restrição orçamentária continua a mesma, apenas expressa em valores diferentes.
Então, o problema do consumidor não sofre alterações e ele escolherá a mesma cesta de bens que escolhia antes do aumento geral de preços.
Portanto, mudanças nos preços absolutos não têm efeito real na economia. Dito de outra forma, os agentes econômicos não sofrem de ilusão monetária.
Apenas mudanças nos preços relativos têm efeitos reais, isto é, quando o preço de um bem aumenta (ou diminui) em relação ao preço de outro bem.
Podemos, então, transformar um dos preços da economia em numerário (o que significa normalizá-lo em 1).
Por exemplo, se adotarmos o preço do bem \(x_1\) como preço-numerário, a restrição orçamentária ajustada será dada por: \[x_1 + \frac{p_2}{p_1} x_2 + \frac{p_3}{p_1} x_3 + \dots + \frac{p_n}{p_1} x_n \leq \frac{I}{p_1}.\]
Suponha uma economia com dois bens onde o governo decide racionar o consumo de um dos bens (sem perda de generalidade, o bem \(x_1\)).
Cada consumidor pode comprar, no máximo, \(\bar{x}_1\) unidades do bem 1, ainda pagando o preço \(p_1\) para qualquer quantidade \(x_1 \leq \bar{x}_1\).
Acima da quantidade \(\bar{x}_1\), o consumidor não pode mais adquirir este bem.
Podem ocorrer duas situações:
\(\bar{x}_1 \geq I/p_1\): não há alteração na reta orçamentária. Esse caso é irrelevante, o governo está fixando um valor de racionamento muito alto, que não afeta a restrição orçamentária dos agentes (imagine o governo restringindo a compra de BMWs para no máximo 10 unidades por consumidor).
\(\bar{x}_1 \leq I/p_1\): nesse caso, o consumidor pode consumir o bem 1 normalmente até o nível \(\bar{x}_1\). A partir desse nível, não é mais possível consumir este bem. Portanto, ocorre uma quebra da reta orçamentária no nível \(\bar{x}_1\) de consumo do bem 1.
import matplotlib.pyplot as plt
import numpy as np
# Define the parameters
p1 = 2
p2 = 1
I = 10
x1bar = 4
# Define the range of x2
x2 = np.linspace(0, 10, 100)
# Define the budget line
x1 = (I - p2*x2)/p1
# Define the rationed budget line
x1_rationed = np.minimum(x1, x1bar)
# Plot the budget line and the rationed budget line
fig, ax = plt.subplots(figsize=(10,6))
ax.plot(x1, x2, linestyle='--', label='Reta Orçamentária')
ax.plot(x1_rationed, x2, color = 'darkgreen', label='RO com Racionamento')
ax.fill_betweenx(x2, x1_rationed, 0, where=x1_rationed>0, color='darkgreen', alpha=0.3)
ax.set_xlabel('$x_1$')
ax.set_ylabel('$x_2$')
ax.legend()
plt.show()
Existem certos bens que possuem preços que variam de acordo com a quantidade consumida (e.g., energia elétrica, água)
Para um consumo pequeno de água, o governo cobra um preço menor por litro consumido do que o preço cobrado para consumos maiores.
Motivação: evitar desperdício, beneficiar a parcela da população mais pobre que costuma consumir menos água na média, etc.
Suponha, então, o seguinte cenário: se a quantidade consumida do bem \(x_1\) está na faixa \([0,\bar{x}_1]\), então, cobra-se um preço igual a \(p_1\). Se a quantidade consumida for superior à \(\bar{x}_1\), cobra-se um preço \(p'_1\), sendo \(p'_1 > p_1.\)
Neste caso, há uma quebra da reta orçamentária em \(\bar{x}_1\), refletindo a mudança de preço a partir desse nível de consumo.
NICHOLSON, W.; SNYDER C. Teoria microeconômica: Princípios básicos e aplicações. Cengage Learning Brasil, 2019. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522127030/
VARIAN, H. R. Microeconomia: uma abordagem moderna. 9.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.com.br/books/9788595155107